domingo, 7 de julho de 2013

O iraniano, o estadunidense e o brasileiro?

Uma das pessoas mais interessantes que conheci em Québec foi um iraniano. Extremamente amável, atencioso e inteligente. Sempre me perguntava sobre os países ocidentais e de como ele é curioso em conhecê-los. Falava-me entusiasmado da sua religião e de como nós, aparentemente, não entendíamos algumas coisas. Sempre me perguntava sobre o cristianismo com um misto de surpresa e respeito. Tentava entender o que representa Jesus Cristo para “nós” ocidentais.
Mas ele me falou também da frustração de quando teve um trabalho aprovado em um congresso na França, comprou passagens, reservou hotel, mas teve seu visto negado! O motivo: a política externa de seu país, provavelmente. Desabafou como aquilo foi um dos momentos mais tristes da sua vida. Ser rejeitado pelas ações do seu país é duro.

No dia do meu regresso, recebi um telefone de um americano com quem costumava conversar por horas sobre política externa e nossas impressões de Québec. Sabendo que poderia ser a última vez que conversaríamos, ele foi muito franco em como se sentia sendo estadunidense, como seu país é complexo e cheio de conflitos internos e como ele condena as ações de seus governos.
Ao mesmo tempo que ele me dizia isso, percebia uma misturava de revolta e frustração por ser tratado “como americano”. Dizia-me como se esforçava para conhecer as pessoas, ser amigável e mostrar como ele era. Mas “o peso de ser americano” era mais forte e que ele era discriminado por isso. Eu lhe disse: “muita gente odeia seu país” e ele me respondeu “eu sou uma dessas pessoas” e emendou “nunca me esforcei tanto para ser aceito como sou, mas simplesmente não funciona”. Para ele, havia a sensação de ser o alvo de todas as críticas aos seus governos. 

 “Numa inversão de papéis” (e aqui estou sendo irônico), o iraniano se deslumbrou com o capitalismo canadense que tem nos EUA um dos seus principais representantes e comprou tudo que pôde das marcas famosas, enquanto o americano buscava se despir de toda uma vida preparada para ser consumista.

O iraniano e o estadunidense sofrem com uma imagem criada sobre seus países. Essas imagens soterram o que são individualmente e os deixam frustrados, marginalizados. E fiquei pensando, é a mesma coisa com os brasileiros?!?!

2 comentários:

  1. Engraçado que eles são vítimas do preconceito em “seus próprios mundos", em seus próprios sistemas...

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  2. Belo texto, antropologia. Eu, ao contrário da grande maioria, sou um admirador do estilo de vida estadunidense e da forma como aquela sociedade se constituiu. Seria, sem sobra de dúvidas, o único pais do mundo em que eu moraria fora do Brasil.

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