E eu que já tinha
preparado a sequência de músicas para as cinco horas de viagem, fui
surpreendido. Em vez de desfrutar os novos discos dos septuagenários David
Gilmour e Keith Richards, tive a grata surpresa de conhecer o Monsieur Clauzon,
82 anos!
Monsieur Clauzon é uma
dessas pessoas com uma história riquíssima, filhos de pais franceses, nasceu no
Vietnã e só veio à França aos quinze anos de idade.
Chegou no trem tranquilamente,
me cumprimentou, sentou ao meu lado e começou a puxar papo. Eu respondi
educadamente, mas estava mesmo com a cabeça nas músicas que iria ouvir. Monsieur Clauzon
insistiu educadamente em conversar (características pouco presente nos parisienses
que encontramos por ai), tirei os fones do ouvido e embarquei na viagem dele...
Foram cinco horas de conversa
sobre vida, morte, viagens, filhos, imigrantes, futebol (como ele conhece bem o
tema) e sua maior paixão: a fusão à frio. Ele falou sobre o tema de uma forma
apaixonada e me mostrava dados e nomes de pessoas manuseando com desenvoltura
seu smartphone! Por fim, minha filha ainda ganhou um presente (um jogo que não
sei muito bem como funciona ou se é para sua idade).
A serenidade do Monsieur
Clauzon me chamou muita atenção, assim como a sua frustração. Ele havia
descoberto a tal fusão tardiamente e, segundo ele, não estaria mais presente
nesse mundo quando ela se tornasse uma realidade.
- Comecei tarde demais.
Fiz tanta coisa, mas essa que pode mudar o destino da humanidade, eu comecei
tarde demais - Disse tranquilamente o Monsieur Clauzon.
Eu fiquei ali olhando
aquele senhor. Eu estava surpreso e pensando um monte de coisa ao mesmo
tempo...
Monsieur Clauzon vai deixar esse mundo, se cedo ou tarde, eu não sei. É provável que eu nunca mais tenha notícias dele ou que a fusão não passe de experiências dentro de um laboratório, mas a lembrança daqueles cinco horas entre Toulouse e Paris ficarão guardadas.
- Muito obrigado pela agradável viagem Monsieur Clauzon - Assim eu me despedi.
- Aproveite a vida - respondeu ele.
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